“Eu os encorajo a semear o amor, a trilhar com confiança o caminho do diálogo, a manter sua bondade e gentileza (…) a serem construtores da união e da paz”, disse Francisco, no quarto dia de sua turnê pela Ásia-Pacífico, terceiro de sua visita ao país.
No calor abafado de Jacarta, a caminho do estádio nacional de futebol da Indonésia, a fiel Anastasia Ida Ediati insiste que a longa jornada para ver o papa Francisco em uma gigantesca missa ao ar livre é apenas mais um sinal de sua devoção à fé católica. No total, mais de 100 mil pessoas – 80 mil dentro do estádio Gelora Bung Karno e 20 mil do lado de fora – participaram da celebração, que durou quase duas horas.
“Sinto-me feliz, entusiasmada e encantada ao nos dirigirmos a um lugar onde receberemos uma bênção coletiva”, declarou uma participante de 59 anos, que se levantou ao amanhecer para viajar 290 quilômetros pela ilha de Java para ouvir o papa Francisco falar na capital.
“Juntos, poderemos louvar a Deus e voltar para casa para que possamos transmitir a mensagem do papa às nossas famílias e amigos e colocá-la em prática”, acrescentou ela, aguardando pacientemente o início da cerimônia.
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Incentivo à natalidade
Para os católicos, que são minoria (menos de 3% da população) nesse país com a maior população muçulmana do mundo, a visita do papa – inicialmente programada para 2020 – é o evento de uma vida inteira.
Em uma atmosfera de grande entusiasmo, um clamor seguido de uma salva de palmas percorreu as arquibancadas do estádio quando o líder da Igreja Católica apareceu, em meio a uma maré de bandeiras do Vaticano e da Indonésia.
Na quarta-feira (4), em Jacarta, Francisco também pediu o “fortalecimento do diálogo inter-religioso” para “combater o extremismo e a intolerância”. O líder da Igreja voltou ainda à questão polêmica da demografia, brincando que as pessoas em alguns países preferem ter um gato ou cachorro de estimação em vez de filhos.
“Em seu país, as pessoas têm três, quatro ou cinco filhos, esse é um exemplo para todos os países, enquanto algumas pessoas preferem ter apenas um gato ou um cachorro pequeno. Isso não pode estar certo”, disse ele durante um discurso no palácio presidencial da Indonésia.
O papa argentino apareceu sorridente e em boa forma aos 87 anos, em seu “papamóvel”, abençoando e cumprimentando os fiéis, especialmente crianças e bebês. AFP – HANDOUT
Euforia e ecologia
De folhetos de missa a camisetas, de bonés a rosários, a imagem do pontífice estava em toda parte. “Viva o papa! Viva papa Francesco!” (Francisco em italiano), cantava a multidão, no ritmo da música que tocava no local.
Os fiéis que não conseguiram obter o ingresso distribuído gratuitamente nas paróquias acompanharam a celebração em telões do lado de fora do estádio esportivo, que normalmente recebe jogos da seleção nacional de futebol.
Desde o início da manhã, grupos chegavam ao estádio em ônibus lotados, muitos vestindo camisetas com a imagem do papa e tirando fotos em grupo com o imenso edifício ao fundo.
Caecilia Tutyandari estava balançando um leque com um retrato de Francisco. “Estou muito emocionada. É por isso que trouxe muitos lenços”, riu a senhora de 51 anos de Yogyakarta, a cerca de 500 quilômetros de Jacarta.
Para esse dia, as autoridades da cidade, que está com o tráfego congestionado, pediram para os moradores trabalharem em casa ou usassem o transporte público para evitar engarrafamentos na capital.
Em todo o país, grupos católicos que não receberam um convite para o evento organizaram missas em suas igrejas e acompanharam a cerimônia via streaming.
Ryan Gavin, 16 anos, usando um chapéu de palha com a inscrição “Laudato Si”, um folheto religioso do papa sobre ecologia, ficou encarregado de recolher o lixo no estádio. “O mundo está gradualmente se transformando em uma lata de lixo e o papa está tentando ajudar a torná-lo um lugar mais limpo. Acho que minha geração é mais sensível” a essa questão, disse o adolescente.
Fonte: RFI