Anadia/AL

8 de maio de 2025

Anadia/AL, 8 de maio de 2025

Para Putin e Zelensky, memória da Segunda Guerra Mundial continua sendo uma arma política

Desde a invasão russa, há três anos, os combates se intensificaram na Ucrânia. Mas, além do conflito armado, os dois países estão travando uma verdadeira batalha de memória. Em uma escalada verbal que muitas vezes dá pouca atenção às realidades históricas, cada lado acusa o outro de representar um ressurgimento do nazismo. No 80º aniversário da vitória dos Aliados sobre a Alemanha nazista, Olivier Wieviorka, historiador especializado na Segunda Guerra Mundial, lança luz sobre a questão.

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 8 de maio de 2025

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O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na imagem da esquerda e o russo Vladimir Putin, na imagem da direita. AFP - MANDEL NGAN,MIKHAIL METZEL

Em fevereiro de 2022, Vladimir Putin justificou sua decisão de invadir a Ucrânia dizendo que queria “desnazificar” o país. Embora à primeira vista essa acusação possa parecer ridícula, ela é, na verdade, uma acusação cuidadosamente ponderada que remete ao conflito mais mortal da história.

Em junho de 1941, a Wehrmacht penetrou na Galícia, no oeste da Ucrânia. Nesse berço histórico do nacionalismo ucraniano, o líder nacionalista Stepan Bandera aproveitou a libertação da dominação soviética para proclamar um estado ucraniano independente. Ele decidiu colaborar com o Reich. Cerca de 20 mil ucranianos se juntaram à divisão SS “Galicia” para lutar contra a URSS. Embora o sulfuroso Bandera tenha caído rapidamente em desgraça com os nazistas, o Kremlin agora está feliz em explorar as ambiguidades do poder ucraniano em relação a essa figura controversa.

Na Ucrânia, o trabalho de memória ainda está incompleto

A figura de Stepan Bandera, já em voga antes da guerra, foi exaltada por toda uma parte da população ucraniana desde a invasão russa. Esse ícone ultranacionalista já havia sido elevado à categoria de herói nacional em 2010 pelo presidente Viktor Yushchenko. Volodymyr Zelensky, por sua vez, nunca condenou claramente as ações dessa figura polêmica. Por fim, e esse é um ponto no qual a propaganda russa tem dado grande ênfase, o exército ucraniano inclui entre seus regimentos o batalhão Azov, fundado em 2014 por militantes de extrema direita. Embora as autoridades ucranianas afirmem que a milícia foi despolitizada antes de ser integrada ao exército regular, alguns de seus membros ainda exibem tatuagens neonazistas.

Isso significa que o atual estado ucraniano é nazista? Não, longe disso. O partido nacionalista, herdeiro de Bandera, obteve apenas 1,6% dos votos na última eleição presidencial. A extrema direita está completamente ausente do Parlamento ucraniano. Para combater o discurso russo, Volodymyr Zelensky não hesitou em destacar suas origens judaicas, sobre as quais permaneceu discreto até a eclosão da guerra. Por fim, do ponto de vista histórico, o Kremlin deliberadamente deixa de mencionar que 5 milhões de ucranianos lutaram no Exército Vermelho contra o Reich, um milhão deles morreram.

Na Rússia, a história de uma luta perpétua contra o nazismo

No entanto, Vladimir Putin ainda estabelece regularmente paralelos entre os combates atuais e os da Grande Guerra Patriótica travada contra a Alemanha nazista de 1941 a 1945. “A lembrança desse conflito é extremamente viva na memória russa, seja em nível familiar, local ou nacional”, explica Olivier Wieviorka. E por um bom motivo: 23 milhões de soviéticos morreram.

A exaltação desse grande número de mortos não é nova e remonta à Guerra Fria. “Ela tomou a forma de monumentos, museus, documentários e uma grande atenção dada aos livros escolares. Estes últimos foram reescritos em 2023, por ordem do chefe do Kremlin, especialmente com o objetivo de minimizar a importância do embaraçoso pacto germano-soviético. Esse acordo de não agressão com o Reich, em vigor de 1939 a 1941, é uma mancha na narrativa de Moscou sobre a luta perpétua contra o fascismo.

Para corroborar sua narrativa, a Rússia orquestrou uma vasta campanha de desinformação voltada para os usuários ocidentais da Internet. Desde o início do conflito, fotos adulteradas de Zelensky e do comandante-chefe dos exércitos ucranianos exibindo símbolos nazistas têm circulado nas redes sociais.

Campo de batalha da memória

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky também partiu para a ofensiva no campo de batalha da memória. “O nazismo está voltando”, disse ele aos deputados franceses há um ano, referindo-se à invasão de seu país. “Muitas autoridades russas não escondem seu fascínio pela ideologia nazista ou pelo aparato estatal nazista”, acrescenta Olivier Wieviorka.

O exemplo mais flagrante é a milícia Wagner, uma organização paramilitar russa fundada por Dmitri Outkin, que nunca escondeu sua admiração pelo Führer. “Mas esses paralelos são inadequados. Não acho que possamos considerar Putin como um novo Hitler”, diz.

Como prova de que o presidente Zelensky leva a sério essa batalha de memórias, a Ucrânia agora comemora o fim da Segunda Guerra Mundial em 8 de maio, em vez de 9 de maio, como é costume na Rússia. Inicialmente, essa diferença de data se deveu a diferenças de horário, mas gradualmente se tornou ideologicamente carregada. “Ao mudar a data da comemoração, Zelensky quis ancorar a Ucrânia no Ocidente e não no Oriente”, explica Olivier Wieviorka.

Fonte: RFI

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