A petição da Polícia Federal enviada ao STF (Supremo Tribunal Federal), utilizada como base da operação contra a ex-assessora do deputado Arthur Lira (PP-AL), Mariângela Fialek, conhecida como “Tuca”, aponta indícios de um esquema de direcionamento de emendas com influência direta do parlamentar.
Procurada pelo R7, a assessoria de Arthur Lira informou que o deputado não pretende se manifestar, sob o argumento de não figurar formalmente como investigado.
Segundo a peça, Mariângela atuava “sob ordens diretas” da antiga Presidência da Câmara dos Deputados. A PF descreve sua atuação como parte de uma “estrutura organizada” voltada ao controle e à operacionalização de emendas parlamentares.
Embora Arthur Lira não conste oficialmente na condição de investigado, o documento registra conexões consideradas relevantes pela corporação e o posiciona no núcleo do mecanismo descrito por parlamentares ouvidos durante a apuração.
O texto também indica possibilidade de aprofundamento das investigações em direção ao entorno político do ex-presidente da Câmara.
Em nome de Lira
A própria Polícia Federal registra que os depoimentos colhidos “direcionaram as apurações à representada” e reforçaram a avaliação de que Mariângela agia em nome de Arthur Lira. O nome do deputado aparece 24 vezes ao longo do documento.
“A representada atua diretamente na operacionalização do encaminhamento de emendas, efetuando-as supostamente em nome do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira”, registra a petição.
A corporação também destaca que, mesmo após a mudança no comando da Câmara, Mariângela permaneceu operando o sistema de distribuição de emendas.
Para os investigadores, esse dado indica continuidade da engrenagem independentemente de quem ocupava formalmente a Presidência da Casa.
O documento aponta ainda indícios de “redirecionamento forçado” de recursos e menciona de forma específica o município de Rio Largo (AL), administrado por aliados históricos de Arthur Lira. Com cerca de 70 mil habitantes, a cidade recebeu aproximadamente R$ 90 milhões provenientes do orçamento secreto entre 2019 e 2022.
A PF utiliza esse caso como exemplo de recorrência de práticas consideradas suspeitas em municípios ligados ao entorno político do deputado.
A investigação aponta que arquivos armazenados em nuvem e anotações manuscritas indicam que Mariângela:
- controlava a distribuição de emendas;
- operava “reservas” de valores destinadas a parlamentares específicos;
- realizava realocações de recursos descritas como similares a “conta de padaria”;
- coordenava verbas relacionadas à Codevasf, órgão no qual também exerceu a função de conselheira fiscal.
Segundo o relatório, trata-se de uma atuação prolongada na organização desses recursos, com início no período da pandemia e coincidência temporal com o mandato de Arthur Lira na presidência da Câmara dos Deputados.
A investigação
A apuração teve início no âmbito da ação conduzida pelo ministro Flávio Dino, responsável por determinar que estados, Distrito Federal e municípios adotassem medidas voltadas à transparên
cia e à rastreabilidade dos recursos distribuídos por emendas parlamentares. Parlamentares passaram a prestar depoimento após manifestações realizadas nas tribunas do Senado e da Câmara.
Durante a investigação, Mariângela Fialek teve o sigilo de dados telemáticos quebrado. De acordo com a Polícia Federal, o material analisado reforça indícios de participação relevante no controle do chamado “orçamento secreto”.
A Procuradoria-Geral da República, favorável à deflagração da operação, afirmou em manifestação encaminhada ao Supremo a existência de indícios de uma organização criminosa voltada a desvios funcionais e crimes contra a administração pública e o sistema financeiro nacional.
O órgão sustenta que há sinais de exercício de “controle de indicações desviadas de emendas decorrentes do orçamento secreto em benefício” dessa organização.
Defesa de Mariângela
Em nota, a defesa de Mariângela Fialek declarou inexistirem suspeitas de irregularidades atribuídas à ex-assessora. Segundo os advogados Luís Inácio Adams e Maria Claudia Bucchianeri, a atuação dela na Câmara dos Deputados manteve caráter técnico, apartidário e impessoal.
A defesa sustenta que a Polícia Federal buscou apenas acessar informações relacionadas ao trabalho de organização de emendas.
Os dados mencionados, conforme o documento, possuem caráter público, seguem envio rotineiro à Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República e constam no Portal da Transparência.
ABN C/ R7

















