Anadia/AL

26 de abril de 2025

Anadia/AL, 26 de abril de 2025

PLs propõem spray e armas de choque gratuitas; medida protegeria mulheres?

Embora a iniciativa tenha ganhado força em meio ao aumento da violência de gênero no país, especialistas ouvidas pelo Universa apontam riscos legais, operacionais e simbólicos / 12:09 hs

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 22 de abril de 2025

B

Imagem: Goffkein/ stock.adobe.com

Por: Luiza Souto

Ao menos sete estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná, além do Distrito Federal e a Câmara dos Deputados, analisam projetos de lei que propõem o fornecimento gratuito de sprays à base de extratos vegetais (como gengibre) para mulheres vítimas de violência.

Em alguns casos, os textos incluem armas de eletrochoque, como tasers. No Distrito Federal, o projeto foi aprovado pelos deputados em dezembro e aguarda sanção do governador.

Embora a iniciativa tenha ganhado força em meio ao aumento da violência de gênero no país, especialistas ouvidas pelo Universa apontam riscos legais, operacionais e simbólicos. Na prática, dizem, a proposta transfere a responsabilidade da proteção às vítimas, e pode provocar mais insegurança.

Uso de sprays e tasers é restrito

Segundo a legislação atual, sprays como os de pimenta e armas de eletrochoque exigem autorização específica, normalmente por meio de Certificado de Registro (CR) emitido pelo Comando Logístico do Exército (COLOG). O porte ilegal desses equipamentos pode resultar em pena de dois a quatro anos de reclusão, além de multa.

Apesar da restrição, há quem recorra ao mercado informal. No TikTok, vídeos com centenas de visualizações ensinam como adquirir e usar sprays de pimenta. “É crime?”, pergunta um seguidor. “Não, pois é legítima defesa”, responde uma influenciadora. A interpretação, no entanto, não é respaldada por especialistas.
A advogada Sueli Amoedo, especialista em direitos humanos e proteção à mulher, esclarece que a legítima defesa não é um salvo-conduto.

Se a mulher reagir com excesso, pode ser responsabilizada criminalmente. Nem sempre a autodefesa termina em proteção, advogada Sueli Amoedo.

Amoedo também atenta que a competência para legislar sobre armas é da União, o que levanta dúvidas quanto à constitucionalidade de leis locais. “O risco jurídico permanece, especialmente se não houver regulamentação nacional consolidada.”

A promotora do MPSP Celeste Leite dos Santos, presidente do Instituto Pró-Vítima, complementa: a mulher pode responder por crime de lesão corporal pelos efeitos causados pelo spray como lesão na córnea, bolhas na pele ou danos psicológicos.

Falsa sensação de segurança

Para Celeste, a distribuição de sprays e eletrochoques não resolve o problema central: a violência estrutural contra mulheres.

“A proposta trata o sintoma, não a causa. É como entregar a vítima à própria sorte e reconhecer a falência do sistema de segurança pública”, critica ela, idealizadora do projeto Defenda-se: transformando dor e conhecimento, voltado ao enfrentamento da violência de gênero.

Ela lembra que o uso desses dispositivos exige treinamento, o que raramente é oferecido.

Sem preparo, o uso inadequado ou excessivo pode causar danos físicos ou psicológicos desnecessários. E há um risco concreto: o agressor pode estar armado ou ser fisicamente mais forte, promotora do MPSP Celeste Leite dos Santos.

Celeste defende a aprovação do Estatuto da Vítima, já em tramitação na Câmara. “Ele permitirá que o Estado atue de forma preventiva e estruturada, com mapeamento de fatores de risco e proteção de grupos vulneráveis.”

A responsabilidade é do estado

A diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, delegada Raquel Gallinati, reconhece que a proposta nasce de um clamor legítimo por segurança, mas reforça: autodefesa não pode ser a única resposta estatal:

É inadmissível cogitarmos que a segurança das mulheres dependa exclusivamente da sua capacidade de reagir. Precisamos fortalecer o sistema de justiça, endurecer punições aos agressores e estruturar uma rede de apoio eficiente, diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, delegada Raquel Gallinati.

Para Gallinati, a saída está em um conjunto de medidas: patrulhas especializadas, atendimento humanizado, agilidade no Judiciário, punição rigorosa aos agressores e políticas públicas preventivas. “A responsabilidade é do estado”, conclui.

Redação com Uol 

Espaço Publicitário !

Mantenha-se Informado !
Acesse o Site ABN !
Curta e Compartilhe 👁️‍🗨️

Galeria de Imagens