✨ Mirelle Pinheiro e Carlos Carone
Afastados temporariamente das funções por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), sete policiais federais são suspeitos de integrar uma espécie de “staff” na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Eles seriam responsáveis por cumprir determinações, monitorando alvos e produzindo relatórios que seriam divulgados com a finalidade de criar narrativas falsas.
O núcleo paralelo seria liderado pelo delegado da PF e deputado federal Alexandre Ramagem, principal alvo da Operação Vigilância Aproximada, deflagrada na manhã desta quinta-feira (25/1).
De acordo com as investigações da PF, os policiais integravam dois “núcleos”. O primeiro é o de “Alta-Gestão”, composto por delegados federais que, ao tempo dos fatos, estavam cedidos para a Abin exercendo funções de direção e utilizaram o software FirstMille para monitoramento de alvos e autoridades públicas, bem como para serviço de contrainteligência e criação de relatórios anônimos.
Os integrantes de tal grupo seriam Ramagem e Carlos Afonso Gonçalves, delegado federal e secretário de Planejamento e Gestão, também ex-diretor do Departamento de Inteligência Estratégica.
Já o núcleo “Subordinados” era composto por policiais federais cedidos à Abin que serviam de “staff” para a alta gestão, cumprindo as
determinações, monitorando alvos e produzindo relatórios. Os integrantes são:
- Marcelo Araújo Bormevet, servidor e secretário de Planejamento e Gestão – trabalhava com credenciamento de segurança e pesquisa para nomeações.
- Felipe Arlotta Freitas, policial federal – ocupou coordenação importante do Centro de Inteligência Nacional (CIN).
- Carlos Magno de Deus Rodrigues, policial federal – exerceu cargo de coordenador-geral de Credenciamento de Segurança e Análise de Integridade Corporativa.
- Henrique César Prado Zordan, policial federal – ficou lotado no gabinete do diretor-geral.
- Alexandre Ramalho, policial federal – ficou lotado no gabinete do diretor-geral.
- Luiz Felipe Barros Felix, policial federal – ficou lotado no gabinete do diretor-geral.
As apurações da PF apontam, ainda, que os policiais federais investigados exerciam atividades não conhecidas. A corporação ressaltou que, inclusive, há Processo Administrativo Disciplinar cujo objeto é justamente a apuração de quais seriam as atividades realizadas pelos policiais federais no período em que estiveram cedidos à Abin.
A investigação também aponta para o fato de que a alta direção da agência, exercida por policiais federais cedidos ao órgão durante a gestão do então diretor-geral, Alexandre Ramagem, teria “instrumentalizado a mais alta agência de inteligência brasileira para fins ilícitos de monitoramento de alvos de interesse político”, bem como de autoridades públicas, sem a necessária autorização judicial.
Os policiais federais destacados se utilizaram das ferramentas e dos serviços da Abin para trabalhos de contrainteligência ilícitos com o intuito de interferir em diversas investigações da Polícia Federal, como tentar produzir provas a favor de Renan Bolsonaro, filho do então presidente, Jair Bolsonaro.
Operação da PF
Equipes da PF fizeram buscas no gabinete do parlamentar na Câmara dos Deputados e no apartamento funcional, na manhã desta quinta-feira (25/1). Além de Ramagem, policiais federais são alvo da Operação Vigilância Aproximada.
Eles são suspeitos de integrar uma organização criminosa que se infiltrou e usou o aparelho estatal da Abin para monitorar ilegalmente a geolocalização de dispositivos móveis de servidores públicos, políticos, policiais, advogados, jornalistas e juízes.
Ao todo, a PF cumpriu 21 mandados de busca e apreensão. Do total, 18 são em Brasília (DF), um em Juiz de Fora (MG), um em São João del Rei (MG) e um no Rio de Janeiro.
Mudança no comando
Em nota, a União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin (Intelis) defendeu que a nova operação da PF mostra a importância de ter servidores do próprio órgão em posições de comando.
“Se confirmados os ilícitos apurados, a problemática gestão da ABIN por Alexandre Ramagem e seus assessores reforça a importância de a Agência ser gerida por seu próprio corpo funcional, e não por atores exógenos politicamente condicionados, como no governo anterior”, escreveu a direção executiva da Intelis.
Ainda na nota, a entidade defende que os profissionais de carreira da Abin são os maiores interessados na apuração de desvios no uso de ferramentas de inteligência. Ao fim da nota, a Intelis pontua que essas ferramentas (no caso, o FirstMille) “são semelhantes às utilizadas nos sistemas de inteligência de democracias consolidadas”.
✨ Redação com Metrópoles