Ana Beatriz Rodrigues / Agência Alagoas
Dezenas de profissionais da comunicação participaram, nesta quinta-feira (21), da 11ª edição do Tendências & Soluções, que trouxe como tema boas práticas na cobertura jornalística sobre violência de gênero. O encontro, que é promovido pela Secretaria de Estado da Comunicação (Secom), aconteceu no auditório da Associação dos Municípios Alagoanos (AMA).
A programação leva em consideração a política Pública Alagoas Lilás, que vem realizando uma série de atividades para a prevenção e proteção de violência de gêneros no estado.
O ciclo de formação desta edição discutiu o papel do jornalismo na questão de gênero, abordando boas práticas da cobertura e apresentando ferramentas que apoiam a produção jornalística sobre gênero.
Para o secretário de Comunicação, Wendel Palhares, o momento é sempre de capacitar e refletir. “Tendências & Soluções nasceu no Governo Paulo Dantas, na gestão do secretário Joaldo Cavalcante. Demos continuidade pois sabemos que a Secom não é uma mera divulgadora da gestão e do gestor, ela cumpre um papel de articuladora da comunicação, com a função de ser estratégica e melhorar a sociedade. Quem faz a comunicação são componentes importantes para uma mudança de comportamento, para uma mudança na realidade que não nos orgulha, que é de ter um número alto de violência contra a mulher”, declara Wendel.
A comunicação pode e deve ser utilizada como ferramenta não só para relatar e expor os tipos de violência, mas para promover a equidade de gênero. Para falar melhor sobre o assunto, estiveram presentes cinco especialistas em jornalismo, gênero e políticas públicas: Carla Egydio, da Agência de Jornalismo Digital (Ajor), focando em liberdade de imprensa e sustentabilidade do jornalismo; Mari Leal (Revista AzMina) gerencia projetos de enfrentamento à violência de gênero; Lola Ferreira (Gênero e Número), que é repórter e coordenadora de comunicação com experiência em grandes mídias; Raissa França, fundadora da Eufemea, primeira agência de jornalismo feminino em Alagoas; e Beatriz Acciolly, do Instituto Natura, antropóloga e líder em políticas públicas para mulheres, com vasta experiência em gestão de projetos de impacto social.
“Quando falamos de violência contra as mulheres, é importante questionar por que as reportagens e matérias assumem uma determinada estrutura, que sempre conta ou exige uma narrativa da vítima. O que isso pode significar para mulheres em situação de violência? Especialmente em tempos de comunicação digital, em que tudo o que produzimos é digitalizado e fica disponível na internet, essas matérias e reportagens permanecem para sempre. Será que não podemos pensar em outras formas de contar essas histórias, que fujam desse roteiro da tragédia pessoal, da exposição da vítima ou da família no sofrimento, como no caso do feminicídio, é um passo”, discutiu Beatriz Acciolly.
A jornalista Raissa França destacou alguns dos exemplos mais comum vivenciado por ela. “Muitas vezes, quando ocorre um caso de feminicídio ou de violência, somos as primeiras a compartilhar a foto da vítima, expondo-a, e continuamos compartilhando. Isso muitas vezes chega também aos grupos de WhatsApp. Vivemos em um sistema patriarcal que mata e violenta mulheres o tempo inteiro. Podemos até não perceber as violências sutis, mas elas estão ali, nos atingindo o tempo todo. E então colocamos no título da matéria: “Inconformado com o término, homem mata mulher”, “Por ciúmes, homem agride mulher”, “Crime passional”. Não. Não é “inconformado com o término”. O homem não é dono da mulher. Ao fazer isso, colocamos a mulher no lugar de culpada. Ela passa a ser vista como culpada, não como vítima, isso replica o ciclo”, exemplifica Raissa.
Essas reflexões trazidas nesta edição do Tendências auxilia o trabalho de quem lida diariamente com violência, a exemplo da diretoria de comunicação da Polícia Militar.
“Para nós da PM é um momento de aprendizado, de compartilhamento, e de levar essas lições como manuais e práticas, inclusive por meio de aplicativos, entre outros recursos. Como jornalistas e assistentes de comunicação da Polícia Militar, trabalhamos diariamente com esse tema. O Agosto Lilás, para nós, é representativo, mas não é uma ação que acontece somente neste mês. Cobrimos a violência contra a mulher todos os meses. O 190 é o número de emergência, mas hoje também existe o site e o aplicativo, onde a mulher, vítima de violência, pode buscar ajuda e ser atendida pela Polícia Militar. Ou seja, é todo um ciclo que contemplamos. Quando temos que falar sobre isso, todo cuidado é pouco”, pontua o coordenador de Jornalismo e Redação da Polícia Militar, capitão Bruno Pereira.
O Ciclo Tendências & Soluções acontece em parceria com o Sindicato dos Jornalistas de Alagoas, e representa o interesse em capacitar os profissionais alagoanos.
“O Sindjornal está sempre apoiando eventos que reúnam a comunicação do Estado, pois entendemos que a cobertura jornalística precisa desse debate, pois muitas vezes chegamos ao momento em que o crime acontece e podemos contribuir mostrando a vítima de uma forma que não a revitimize. Temos, portanto, um papel importante e precisamos manter essa formação qualificada, para que o profissional entenda qual a melhor forma de apresentar o assunto, de fazer a cobertura e de manter uma política de segurança para a mulher, segurança não apenas física, mas também emocional, social e econômica”, expõe o presidente do Sindjornal, Alexandre Lino.
Redação com agência Alagoas
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