Quase todos os sonhos de Carla Karolina se materializaram em três anos. Parece pouco tempo, mas essa foi a distância entre os ciclos olímpicos de Tóquio e Paris. No primeiro, a alagoana de 18 anos era desconhecida. Agora, já competiu internacionalmente e deve marcar presença na Europa.
Tudo isso é graças ao skate, esporte que foi apresentado pelo pai, ainda criança. A vaga olímpica para Paris é difícil, uma vez que só seria possível numa eventual condição de reserva. A Seleção Brasileira está definida para a modalidade street, que simula as condições de rua durante as provas, e será liderada por Rayssa Leal. Gabriela Mazetto e Pâmela Rosa também irão competir.
ROTINA
Karolzinha, como é conhecida, chegou em Maceió há um mês, após um período de treinamentos com a Seleção Brasileira, na China. Por aqui, a rotina segue bem dividida: cinco dias de skate e três dias de funcional para chegar pronta à próxima competição. Caso não seja em Paris, o foco é participar dos STU de Recife e de São Paulo, em setembro, torneio em que ela está em segundo do ranking nacional.
“Espero que dê tudo certo, vou continuar treinando. E se der, deu, se não, a gente vai para a próxima, porque skate é isso. Skate é diversão, é amizade, é aspiração. Depois deste ano, meu foco é a Olimpíada de 2028. Treinar pra isso, evoluir manobra, tentar me dar bem em várias competições nacionais e mundiais, as que contam pontos para as Olimpíadas. Espero estar andando de skate bem, estar andando de skate leve, feliz”, complementou.
Apesar da experiência em viagens, Karolina não escapa da preocupação dos pais, que querem atualizações constantes e sentiam receio de vê-la viajando pelo mundo sozinha. “Ah, meu pai, minha mãe, minha família toda, acho que ficam muito, muito preocupados. Mas o bom que eles entendem que é o meu futuro, tenho que correr atrás e eles confiam muito em mim”, brincou.
Ela acrescentou: “É sempre bom conhecer um lugar novo. E a Europa foi um dos lugares que eu mais gostei, especialmente a Itália e a Suíça. O Japão, também gostei bastante. A China foi um choque de cultura, muita coisa diferente, e eu esperava que fosse igual ao Japão. Na hora, totalmente diferente, mas foi uma vivência muito boa. Acho que as viagens que o skate me levou a fazer, com certeza, foram as mais incríveis”.
Neste ano, Karolina abriu a temporada com a conquista do STU Florianópolis, em fevereiro, mantendo uma sequência iniciada em 2023, quando foi vice-campeã na etapa de Recife.
Há três anos, a skatista tinha dificuldades para competir em Maceió, cidade que ainda carece de torneios importantes apesar de ter uma cena de skate em pleno crescimento.
Era o pai dela, Carlos Henrique dos Santos, quem se fazia treinador. Quando criança, ela o acompanhava nas andanças de skate. Ao chegar à adolescência e mostrar interesse em competir pelo esporte, ele passou a desenhar pistas e criar obstáculos que simulassem as condições que ela viria a encontrar em outros estados.
DOCUMENTÁRIO
Toda a história da alagoana será registrada pelo cineasta Bryan Leite, que já se reuniu com a família e conheceu mais detalhes de tudo o que passaram até que Karolina chegasse a esse nível na modalidade.
“É gratificante para mim poder contar um pouco da minha história e contar um pouco da história do meu pai. Então, espero que a gente consiga fazer isso tudo certinho, sem muito erro, que a gente consiga deixar o negócio fluir bastante, porque eu tenho certeza que vai ficar um filme muito da hora sobre a minha história, a história do meu pai e como o skate afetou e afeta a nossa vida”, disse.
O cinegrafista teve interesse na história por ter visto algumas das dificuldades que pai e filha passaram para viabilizar o sonho. Ele e sua esposa, Kamyla Ariely, são os realizadores do documentário, que foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo, da Prefeitura de Maceió.
“O documentário vai ter muitas camadas. A gente pretende pincelar entre elas essa relação de pai e filha, além disso, a força feminina, essa resiliência da Karolzinha, num esporte que por tanto tempo foi tão masculinizado e esse resgate que o esporte faz dentro das comunidades, nas periferias, realmente essa transformação cultural que o esporte tem o poder de fazer”, explicou Leite.
A construção da história ainda está ganhando forma, porque a vida de Karol e Bob ainda é cheia de acontecimentos, com competições, torneios e grandes objetivos à frente. Tanto Bryan quanto Kamyla também são skatistas.
“Está sendo um processo muito gostoso. Porque tem muitos pontos em comum com a gente, por conta do skate. Mas tem muita coisa também em comum com tanta gente por aí afora, não é? A ideia não é fazer um filme de skate, mas realmente contar a história de uma família skatista”, encerrou.
*Redação com Gazeta de Alagoas