A temperatura tem aumentado todos os anos desde 1960, mas tem sido particularmente mais alta durante os recentes episódios de branqueamento de corais, de acordo com o estudo publicado na prestigiosa revista científica Nature. O aquecimento das águas é muito provavelmente a consequência da mudança climática causada pela ação humana.
A coautora do estudo, Helen McGregor, disse estar “extremamente preocupada” com os aumentos “sem precedentes” na temperatura da água.
A Grande Barreira de Corais, que se estende por 2.300 km ao longo da costa do estado de Queensland (nordeste da Austrália), é considerada a maior estrutura viva do mundo. É o lar de uma biodiversidade extremamente rica, com mais de 600 espécies de corais e 1.625 espécies de peixes.
O branqueamento dos corais é causado por um aumento na temperatura da água, que expulsa as algas simbióticas que dão ao coral sua cor brilhante. Se as altas temperaturas persistirem, o coral fica branco e morre.
Pesquisadores australianos estudaram as temperaturas da superfície no Mar de Coral usando amostras de corais antigos para reconstruir as temperaturas desde 1618.
Embora as temperaturas fossem relativamente estáveis antes de 1900, eles descobriram que o mar havia se aquecido em uma média de 0,12 graus Celsius por ano desde 1960.
Durante os episódios mais recentes de branqueamento em massa (2016, 2017, 2020, 2022 e 2024), as temperaturas foram ainda mais altas.
Mesmo que os corais consigam se recuperar, as temperaturas cada vez mais altas da água, combinadas com os sucessivos episódios de branqueamento, estão colocando-os sob forte pressão, alerta Helen McGregor.
“Essas mudanças, pelo que vimos até agora, parecem estar acontecendo rápido demais para que os corais se adaptem, o que está realmente ameaçando o recife como o conhecemos”, alerta a pesquisadora de climatologia da Universidade de Wollongong, na Austrália.
Danos extremos
O episódio de branqueamento deste ano, um dos mais graves e generalizados já observados, deixou 81% do recife com danos extremos, de acordo com os últimos dados do governo.
Os cientistas só poderão determinar quanto do recife está irreparável dentro de alguns meses.
“Por enquanto, podemos ver que o recife está resistindo”, disse Richard Leck, diretor de oceanos do World Wildlife Fund (WWF) Austrália. “Ele se recuperou de episódios anteriores de branqueamento de corais, mas em algum momento o elástico vai se romper”, afirmou.
“Os recifes de coral são o primeiro ecossistema do planeta a ser ameaçado em sua existência pelas mudanças climáticas”, alertou.
“Devemos esperar que o mundo não fique de braços cruzados e deixe isso acontecer. Mas resta apenas uma fração de segundo antes da meia-noite”, alerta Richard Leck.
Em junho, a Unesco conclamou a Austrália a tomar medidas “urgentes” para proteger a Grande Barreira de Corais, especialmente adotando objetivos climáticos mais ambiciosos.
A agência da ONU quer que Canberra apresente uma atualização no início de 2025 sobre seus esforços para proteger e preservar os corais, mas não recomenda que o local seja incluído em sua lista de Patrimônio Mundial em Perigo.
A Austrália investiu cerca de US$ 3,2 bilhões na melhoria da qualidade da água, na redução dos efeitos da mudança climática e na proteção de espécies ameaçadas de extinção. Mas o país, um dos maiores exportadores de gás e carvão do mundo, só recentemente estabeleceu metas para se tornar neutro em carbono.
Fonte: RFI