Por: Uesley Durães
Um projeto de alunos de uma escola de elite de São Paulo promete doar dez grãos de arroz por cada resposta certa de um quiz na internet. No entanto, para doar um quilo do alimento, seria necessário que o usuário respondesse a cinco mil perguntas. O projeto foi criticado por usuários em publicação da escola no Instagram.
O projeto se propõe a doar dez grãos de arroz a cada resposta correta de um quiz com aproximadamente 20 perguntas. A iniciativa foi desenvolvida dentro da Escola Concept de São Paulo, uma das mais caras do Brasil, e foi apresentada por um estudante em vídeo nas redes sociais da instituição de ensino na última segunda-feira (2). O aluno apresentou a ideia em inglês em um discurso com legenda em português.
Até a noite de terça-feira (3), o projeto conseguiu a doação de 5.230 grãos de arroz. A quantidade representa pouco mais de 100 gramas do alimento, o que não preenche 25% de um saco de um quilo.
O quiz funciona da seguinte forma: a pessoa acessa uma plataforma e escolhe responder entre questões de ensino fundamental e médio. Antes de jogar, o usuário precisa se identificar com conta de e-mail e nome.
Para encher um pacote de um quilo de arroz é preciso de, em média, 50 mil grãos do cereal. Levando isso em consideração, seria necessário que uma pessoa acertasse cinco mil perguntas para conseguir doar um saco do alimento. A reportagem consultou em busca na internet que o quilo mais em conta do arroz branco custa R$ 3,98.
A Escola tem como metodologia de ensino a aprendizagem baseada por projetos. Todos os alunos são incentivados e têm autonomia para desenvolver iniciativas alinhadas a temas conectados aos seus propósitos. O projeto em questão foi idealizado por um de nossos estudantes e tem como objetivo estimular o aprendizado. A iniciativa, que acaba de ser implementada, está em fase piloto e ainda passará por ajustes. e Escola Concept, em nota ao UOL
Após questionamentos da reportagem, a escola tirou a publicação das redes sociais do ar. A instituição já havia recebido críticas no Instagram questionando o método da escola, mas a instituição desativou os comentários.
A escola é a terceira mais cara para se estudar no Brasil. Os interessados precisam desembolsar, em média, R$ 13.340 por mês para estudar na instituição.
Arroz não é o suficiente, diz especialista
Iniciativa dá aos alunos a impressão de que o assistencialismo resolveria problema. Ao UOL, Denise Collin, ex-secretária de Assistência Social e Combate à Fome do governo federal, disse que o problema a ser discutido deveria ser a causa da fome e que uma ação social como essa é insuficiente.
Escola minimiza o fenômeno da fome e deixa de lado a discussão crítica, opina a especialista. Denise explica, ainda, que a instituição deve promover campanhas educacionais para ensinar aos alunos que a fome é de responsabilidade do poder público, do poder privado e da sociedade e que só um trabalho de longo prazo acabaria em definitivo com o problema.
Os grãos não são suficientes. Isso vai dar a impressão para os alunos de que um voluntariado e assistencialismo resolveriam o problema. A questão não é essa. Primeira coisa: não há ali um propósito de educação ampliada, de tentar compreender o problema, o fenômeno. Eles poderiam fazer uma série de outras coisas. Uma ação pontual é insuficiente e não supera o fenômeno. Dá uma falsa noção de atendimento ou de tratamento. Denise Collin
A insegurança alimentar não será superada apenas com arroz, segundo Denise. O problema da fome envolve outros fatores que não foram levados em consideração na divulgação da escola, como a falta da oferta de alimentos nutritivos e de qualidade, a frequência da alimentação e o método como esses alimentos serão oferecidos para a população.
Até o arroz é questionável. O arroz não é suficiente, a pessoa precisa de um local para cozinhar, precisa de complementos: verduras, proteína. Se você só tem isso, ela não trará um resultado de superar a insegurança. A escola tem função de formar consciência crítica, de responsabilidades do poder público, privado, da sociedade. Qual a responsabilidade social de cada cidadão? Denise Collin, ex-secretária de Assistência Social e Combate à Fome do governo federal
Redação com Uol
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