Anadia/AL

1 de outubro de 2025

Anadia/AL, 1 de outubro de 2025

‘Usei droga desde os 13 anos, namorei um traficante e fui agredida por ele’

''Passado mais de um ano —e após nove meses de internação—, ela não se sente curada, mas sabe que está no caminho certo. A VivaBem, ela contou sua história.''

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 1 de outubro de 2025

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Imagem: Acervo pessoal

Por: Rafaela Polo

Isabela Vinadé Portela, 23, começou a usar drogas aos 13 anos, com os colegas da escola —no início, eram cigarros de maconha, de vez em quando. Depois, ela teve dependência severa de cocaína, quando ainda era uma adolescente.

Ela só percebeu que precisava de ajuda com 22 anos, quando foi agredida e ameaçada com uma faca pelo então namorado —que era traficante. Os vizinhos, que ouviram a confusão, chamaram a polícia. Seus pais a internaram imediatamente.

Passado mais de um ano —e após nove meses de internação—, ela não se sente curada, mas sabe que está no caminho certo. A VivaBem, ela contou sua história.

‘Fui apresentada à cocaína, minha perdição’

“Comecei a usar drogas quando tinha 13 anos. Primeiro, fumando maconha e bebendo álcool com alguns amigos. No início, era bem esporádico, talvez uma vez a cada dois meses.

Já aos 14 anos, experimentei outros tipos de drogas: LSD, bala, MD. E, nesse período, fui apresentada à cocaína, que é minha perdição. Aos 15 anos, o uso de entorpecentes começou a aumentar, mas, até aquela altura, não era de forma exagerada.
Aos 17 anos, tudo desandou. Passei a usar frequentemente, comecei a sair mais e a ir a festas de rua.

Meus pais sabiam que eu bebia, mas não faziam ideia de que eu usava drogas. Eles também bebiam e tentavam esconder as bebidas, pediam que eu não bebesse, mas eu sempre dava um jeito de burlar.

‘Me agrediu e me ameaçou’

Eu era jovem e, enquanto usava drogas, tive relacionamentos. Um deles foi com um namorado com quem eu fumava muita maconha. Nós comprávamos de um mesmo fornecedor e foi esse traficante que fez com que eu parasse na reabilitação —algo que foi muito importante para mim.

Meu relacionamento com esse primeiro namorado terminou. Eu estava bem próxima desse traficante, éramos amigos. Fazia compras de maconha e cocaína com ele semanalmente. Éramos próximos. E, no fim das contas, começamos a namorar.

Tive um relacionamento extremamente abusivo, mas não percebia.

A internação de Isabela aconteceu após agressões sofridas pelo namorado traficante
          Imagem: Acervo pessoal 

E, por estar sempre com a pessoa que tinha acesso a drogas, meu uso de cocaína se agravou muito. No começo, eu ainda estudava, mas, com o tempo, devido ao consumo, não consegui mais manter a bolsa [de estágio]. Eu trabalhava, mas precisava usar cocaína durante o dia e não consegui mais seguir no emprego.

Acredito que as pessoas ao meu redor não percebiam meu consumo de drogas. Eu era boa em disfarçar. Talvez minhas amigas mais próximas tenham percebido que perdi o brilho. Porque é isso que o vício faz: você perde seu brilho.

Esse relacionamento durou um ano e onze meses. A situação ficou insustentável quando, em uma noite de muito uso, ele pegou meu celular, começou a mexer em tudo: o extrato do meu cartão de crédito, minhas corridas de Uber, redes sociais… Ele teve um surto. Me agrediu, me ameaçou com uma faca. Tudo isso na frente da mãe dele.

Eu gritei por socorro, os vizinhos chamaram a polícia e, depois desse episódio, meus pais me levaram para uma clínica imediatamente. Foi assim que terminou o relacionamento.

‘Só aos 22, percebi o problema’

A decisão de me internar veio dos meus pais. Mas eu estava tão desesperada que aceitei. Já tinha consciência de que o meu uso não era mais recreativo —era extremamente prejudicial para a minha saúde.

Foi só aos 22 anos que percebi que tinha esse problema com drogas.

Primeiro, fiquei 26 dias em uma clínica em Porto Alegre, que parecia mais um spa, cheia de atividades, como pintura e música. Mas estava ali esperando uma vaga em outro local. Foi aí que tive as crises de abstinência. Eu suava frio, não comia, sentia algo ruim… Uma vez cheguei a desmaiar.

Após quase um mês, fui para outro lugar, bem diferente. No começo, foi um choque: fiquei quatro meses na enfermaria, dividindo quarto com outras cinco meninas, sem poder sair, com horários rígidos até para tomar banho. Ficava me perguntando: ‘Onde eu vim parar?’.

Eles diziam que a enfermaria era para pessoas que precisavam ser estabilizadas, algo que eu já estava. Mas meu pagamento estava sendo feito por convênio, precisava que abrisse uma vaga na casa principal para poder sair de lá.

Logo que cheguei, eles já me avisaram que a minha previsão de internação era de nove meses. Podia aumentar o tempo, mas não diminuir. Tudo ia depender da minha evolução.

Conforme avançava no tratamento, pude participar de aulas com psicólogos, conselheiros, nutricionistas e assistentes sociais.
A clínica não se dizia religiosa, mas incentivava muito a espiritualidade e seguia os 12 passos dos Narcóticos Anônimos.

Aos poucos, comecei a buscar um poder superior dentro de mim, algo que me ajudasse a guiar minha jornada.

Se nos comportássemos mal ou quebrássemos alguma regra, éramos punidos com a diminuição da quantidade de cigarros por dia.

‘Sozinha não teria conseguido’

A dependência química não tem cura. Sempre ouvi que é uma doença incurável, crônica. Então, tive momentos difíceis e de vontade durante o tratamento. Mas nunca pensei em fugir. Quando sentia isso, eu ia até a enfermaria pedir um remédio.

Durante minha internação, tinha também contato limitado com a família: ligações semanais e uma visita por mês. Lembro de chorar muito na primeira visita presencial, assim como meus pais, e percebi que, apesar de tudo, eles estavam de braços abertos para me apoiar. Isso me deu forças.

Saí da clínica em maio do ano passado. Desde então, continuo em tratamento com psicóloga, psiquiatra e grupos de apoio como os Narcóticos Anônimos. Isso me ajuda a manter o foco, porque a droga sempre vai estar à disposição, mas é fundamental evitar lugares, pessoas e hábitos que possam me levar de volta ao uso.

Acredito que a internação foi fundamental para mim. Sozinha, eu não teria conseguido. Por isso, recomendo, sim, que jovens que começaram cedo nas drogas procurem ajuda, mesmo quando não percebem a gravidade do problema. Às vezes, é necessário esse tempo afastado de tudo para se reconectar consigo mesmo.”

Onde buscar ajuda

A dependência de drogas pode ser tratada. Você pode procurar assistência nas UBS (Unidades Básicas de Saúde) ou nos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) mais próximos. Redes como os Narcóticos Anônimos ajudam a pessoa em tratamento a se conectar com outras para apoio mútuo.

Redação com Uol

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