Com mais de 99,5% das urnas apuradas, o maior partido da oposição (Aliança Democrática (AD) obteve 21,79% dos votos válidos. O partido uMkhonto weSizwe (MK), do ex-presidente Jacob Zuma e formado poucos meses antes das eleições, obteve 14,61% das cédulas, enquanto os radicais de esquerda dos Combatentes pela Liberdade Econômica (EFF) tiveram 9,48%. Os resultados finais das eleições mais disputadas da história democrática do país serão anunciados no domingo (2).
Até agora, o poderoso ANC tinha vencido todas as eleições nacionais por uma grande maioria. Mas a desilusão de 62 milhões de sul-africanos desta vez superou a lealdade até então infalível ao movimento que libertou o país da opressão do apartheid.
Na segunda potência industrial do continente, o desemprego afeta um terço das pessoas em idade ativa, especialmente os jovens. A pobreza e a desigualdade estão em alta, enquanto a criminalidade bate regularmente os seus próprios recordes.
Diariamente, os repetidos cortes de água e luz lembram que o sonho de uma nação com acesso à educação, habitação e serviços básicos para todos, prometido pelo ANC para o fim do apartheid, ainda está fora de alcance. Para piorar, a desconfiança aumentou à medida que vários escândalos de corrupção envolvendo altos líderes partidários eclodiram nos últimos anos e alimentaram as manchetes.
O ANC já tinha reunido apenas 57% dos votos nas últimas eleições legislativas, em em comparação com 70% em 2004. Convocados às urnas na última quarta-feira (29), cerca de 16 milhões de eleitores participaram das eleições. A participação foi de 58,6%, abaixo dos 66% registrados no último pleito.
Negociação para governabilidade
Após a divulgação dos resultados finais, serão distribuídas as 400 cadeiras de deputados. A nova Assembleia vai se reunir em junho para eleger o seu próximo presidente.
O ANC, que detém atualmente 230 assentos (57,5%), continua a ser o maior partido político do país. Mas agora, sem a estatura de partido dominante, terá de iniciar negociações nos próximos dias.
Nesta fase, as especulações são altas sobre a formação do próximo governo, com especialistas e observadores a apostar na formação de um governo de coalizão.
Se o ANC decidir se aproximar da AD, terá de fazer concessões ao movimento liberal que defende a privatização do setor público e a flexibilização da economia. Uma aproximação com a EFF e o provocador Julius Malema envolveria compromissos sobre as exigências de reformas radicais, como a redistribuição não compensada de terras aos negros e a nacionalização de setores econômicos chave.
“Não estamos desesperados e não comprometeremos as nossas exigências e os nossos princípios”, insistiu Malema durante uma coletiva de imprensa no sábado.
Derrota em reduto histórico do ANC
Na liderança com 45,90% dos votos na província de KwaZulu-Natal (KZN, leste), reduto tradicional do ANC (17,64%), o MK torna-se a terceira força política do país. Mas o presidente Cyril Ramaphosa, 71 anos, e o ex-presidente Jacob Zuma, de 82, são antigos inimigos políticos e uma aproximação entre os dois homens parece improvável.
A ideia de que o ANC possa continuar a governar por meio de um acordo com certos partidos sobre aspectos fundamentais como o orçamento ou o compromisso de nunca apoiar uma moção de censura é também um caminho.
“Um governo minoritário seria algo completamente novo na África do Sul, mas é uma opção entre outras”, confirmou Helen Zille, do comitê principal da DA, à AFP. “As negociações entre as partes ainda não começaram, mas foram abertos canais”, disse Zile, sem mais detalhes.
* RFI