O caso dos “grampos telefônicos” tem origem nas conversas gravadas entre Nicolas Sarkozy e seu advogado Thierry Herzog, em 2014. Os dois mantinham uma linha extra-oficial e, durante os telefonemas, o ex-presidente usava o pseudônimo “Paul Bismuth”.
Na época, Sarkozy ajudou Gilbert Azibert, então juiz do Tribunal de Cassação, a obter um cargo honorário em Mônaco. Em troca, ele forneceria a Sarkozy informações confidenciais sobre um processo no Tribunal de Cassação.
A sentença do Tribunal de Apelação confirmada nesta quarta-feira (18), que havia sido suspensa, agora poderá ser aplicada. O ex-presidente, de 69 anos, será convocado para que o juiz de aplicação de penas possa determinar como e em quais circunstâncias ele deverá utilizar a tornozeleira eletrônica.
Ex-presidente vai recorrer a Tribunal Europeu
De acordo com seu advogado, Patrice Spinosi, Nicolas Sarkozy “obviamente cumprirá” a sentença, mas o caso será encaminhado ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Ele lamentou um “dia triste” em que “um ex-presidente seja obrigado a entrar com uma ação junto a juízes europeus para condenar um Estado que ele presidiu”.
No caso dos grampos telefônicos, Sarkozy foi condenado por corrupção ativa de um magistrado e tráfico de influência ativa em primeira instância em 1º de março de 2021 e em seguida pela Corte de Apelação em 17 de maio de 2023.
“Estou acostumado ao assédio”
Em comunicado publicado na quarta-feira, o Tribunal de Cassação considera que foram apurados os crimes de corrupção, tráfico de influência e violação do segredo profissional contra os três acusados.
“As condenações e sentenças pronunciadas são finais”, segundo o tribunal. Nicolas Sarkozy é o primeiro ex-presidente da Quinta República [que começou em 1958] a ser condenado à prisão. O ex-chefe de Estado rejeitou as acusações feitas contra ele em várias ocasiões.
“Como sempre fiz ao longo desses 12 longos anos de assédio legal, assumirei minhas responsabilidades e enfrentarei todas as consequências”, declarou Sarkozy nas redes sociais após o anúncio. “Mas não estou preparado para aceitar a profunda injustiça cometida contra mim”, completou.
A decisão do Tribunal de Cassação ocorre algumas semanas antes da abertura, em 6 de janeiro, de outro julgamento contra Sarkozy por suspeitas de financiamento pela Líbia de sua campanha presidencial de 2007. Na época, ele recebeu o ex-ditador Muammar Kadhafi em Paris.
O líder líbio chegou a instalar tendas nos jardins do palácio do Eliseu e seu “harém”, com mulheres soldados que, em alguns casos, seriam apenas escravas sexuais do ditador.
“Estou acostumado com esse assédio há dez anos”, diz o ex-presidente, que comemorará seu 70º aniversário em janeiro. Após sua derrota nas eleições presidenciais em 2012, “Sarko”, como é chamado pelos franceses, jurou que sairia das capas dos jornais.
Mas seus problemas com a Justiça, e sua vida pessoal ao lado de sua esposa, a ex-modelo e cantora franco-italiana Carla Bruni, nunca permitiram que ele saísse dos holofotes.
Fonte. RFI
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