Por Plínio Teodoro
Antes de empreender a fuga para a Europa após ser condenada a prisão e perda do mandato por perseguição armada na véspera da eleição de 2022, Carla Zambelli (PL-SP) turbinou o uso dos recursos públicos que recebe como deputada federal. Entre salário, cota parlamentar e verba de gabinete, a bolsonarista recebeu quase R$ 1 milhão nos cinco primeiros meses de 2025.
Somente de salário, que passou de R$ 44.008,52 em janeiro para atuais R$ 46.366,191, Carla Zambelli embolsou um total de R$ 229.473,284.
A bolsonarista ainda escalou os recursos usados com a verba de gabinete, chegando a R$ 126.182,70 no mês de abril – último período fechado. O limite é de R$ 133.170,54 mensais.
Segundo dados disponíveis no site da Câmara, Carla Zambelli utilizou um total de R$ 479.651,84, o que corresponde a 91,36% da verba de gabinete disponibilizada a ela nos quatro primeiros meses do ano.
A deputada ainda gastou 201.272,99 (78,31%) da cota parlamentar, verba destinada a cada congressista para ser usada em passagens aéreas, promoção e cobertura de custos com a manutenção do escritório de apoio ao mandato.
No total, a deputada consumiu R$ 910.398,114 em recursos públicos apenas em 2025. No entanto, em boa parte do período foi usado pela bolsonarista para se defender dos processos na Justiça. Carla Zambelli ainda afirma que se afastou da Câmara para tratar de uma suposta depressão que teria tido nos últimos meses, antes de se licenciar definitivamente do mandato – antes da cassação – com a fuga para a Europa.
Fuga
Em entrevista à “Rádio Auriverde” nesta terça-feira (2), Carla Zambelli afirmou que já está fora do país “há alguns dias” e que passará a viver na Europa.
“Queria anunciar que estou fora do Brasil já faz alguns dias, eu vim a princípio buscando tratamento médico que eu já fazia aqui e agora eu vou pedir para que eu possa me afastar do cargo. Tem essa possibilidade da constituição, acho que as pessoas conhecem um pouco mais essa possibilidade hoje em dia porque foi o que o Eduardo [Bolsonaro] fez também”, declarou.
Nem mesmo os advogados de Carla Zambelli sabiam para qual país a deputada viajou. Depois, a própria parlamentar deu a entender que está em Portugal. Ela teria entrado na Europa utilizando sua cidadania italiana. Não está claro, contudo, se Zambelli, neste momento, está em Portugal, na Itália ou em algum outro país europeu.
“O STF foi meu tiro. O Alexandre de Moraes, o Gilmar Mendes, que foi o relator em outro caso, esses 15 anos de prisão que eles me deram, quando eles acharam que eu iria deixar de frutos e virar cinza, é quando eles menos esperaram… É daqui que vão dar novos frutos, é daqui que vão nascer novas ações e eu vou denunciar, sim, tudo o que está acontecendo. Eu vou procurar as autoridades aqui em Portugal para que a gente possa falar sobre os ministros que têm tirado dinheiro do nosso país e levado para outros países porque não conseguem mais viver como reis nas ruas do Brasil. Estão vivendo em prisão domiciliar. Eu quero expor isso para o mundo”, disse, mirando Mendes e Moraes, que teriam empreendimentos em Portugal.
A deputada disse, ainda, que pretende ser um “Eduardo Bolsonaro da Europa”, em referência a articulação golpista do filho de Jair Bolsonaro nos EUA. Zambelli afirma vai “denunciar” os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) no exterior.
Fórum tentou contato com Carla Zambelli e com a assessoria da parlamentar para obter mais informações sobre sua saída do Brasil, mas até o momento da publicação desta matéria não houve retorno.
Carla Zambelli condenada
No dia 14 de maio, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) formou unanimidade ao condenar a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Votaram pela condenação de Carla Zambelli e Walter Delgatti: Alexandre de Moraes (relator), Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux.
A condenação de Carla Zambelli deve ser confirmada após os recursos. Em seguida, a Câmara dos Deputados deverá confirmar a decisão do STF e declarar a perda de mandato. Além disso, Zambelli ficará inelegível, isso de acordo com a Lei da Ficha Limpa.
Os ministros propuseram as seguintes penas:
Carla Zambelli: perda do mandato parlamentar (a ser declarada pela Câmara dos Deputados), inelegibilidade e 10 anos de prisão.
Walter Delgatti: 8 anos e 3 meses de prisão em regime inicialmente fechado, além do pagamento de multa. Delgatti já cumpre prisão preventiva.
Zambelli e Delgatti também foram condenados ao pagamento de uma indenização de R$ 2 milhões por danos morais e coletivos.
Em seu voto, o ministro Alexandre de Moraes declarou:
“É completamente absurda a atuação vil de uma deputada federal, que exerce mandato em representação do povo brasileiro, e de um indivíduo com conhecimentos técnicos específicos, que causaram relevantes e duradouros danos à credibilidade das instituições, em completa deturpação da expectativa dos cidadãos e violação dos princípios constitucionais consagrados no Brasil.”
Cassada no TRE-SP
No dia 30 de janeiro, por 5 votos a 2, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) cassou o mandato da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) por abuso de poder. No entendimento da corte, a parlamentar usou de maneira abusiva os meios de comunicação e montou uma teia de desinformação. Ainda cabe recurso.
Para a maioria dos magistrados do TRE-SP, prevaleceu o entendimento de que Carla Zambelli disseminou informações falsas sobre o processo eleitoral de 2022 e, além disso, a parlamentar montou uma “teia de desinformação”. Para tanto, usou as redes sociais e sites para espalhar mentiras.
A Ação de Investigação Eleitoral (Aije) foi movida pela deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP). O julgamento havia sido suspenso em dezembro passado, após a juíza Maria Cláudia Bedotti pedir vistas.
À Fórum, a deputada Sâmia Bomfim comentou a decisão do TRE-SP. “A decisão do TRE-SP é uma vitória para a democracia e um passo fundamental no combate à desinformação propagada pela extrema direita. Zambelli usou seu mandato para espalhar mentiras e minar a confiança no processo eleitoral. Não podemos permitir que figuras públicas utilizem seu poder e prestígio para sabotar a democracia impunemente”, disse.
Com a decisão do TRE-SP, Zambelli fica inelegível por oito anos. Por meio de suas redes sociais, ela lamentou a decisão do Tribunal e se diz alvo de “perseguição”. “Fica claro que a perseguição política em nosso país, contra os conservadores, é visível como o sol do meio-dia”, escreveu a deputada.
A decisão do TRE-SP não tem efeito imediato; portanto, Carla Zambelli continua com o seu mandato.
Redação C/ Revista Fórum
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