Por: Matheus Pichonelli
Hugo Motta(Republicanos) empurrou e Davi Alcolumbre(União Brasil) jogou terra no buraco que a dupla cavou para enterrar a proposta do governo de elevar por decreto o Imposto sobre Operações Financeiras.
Oficialmente, os presidentes da Câmara e do Senado resistiram ao projeto diante da urgência de manter a sanidade das contas públicas com corte de gastos, não com aumento de impostos. O discurso é música para os ouvidos de quem não queria pagar mais por transações internacionais.
Mas a conversa não dura até a segunda página.
Nem à segunda rodada de votação, que no mesmo dia aprovou, no Senado, a criação de 18 novos cargos de deputados, um petardo de efeito cascata que vai – voilá – aumentar as despesas públicas em detrimento dos esforços fiscais.
Mas Motta e Alcolumbre não estão preocupados com as contas públicas. Querem colocar o governo de joelhos às vésperas de uma audiência com o ministro Flávio Dino, indicado por Lula(PT) ao Supremo Tribunal Federal, sobre critérios e transparência da distribuição de emendas parlamentares.
É justamente o controle de parte do Orçamento que deu superpoderes ao Legislativo. Isso explica por que partidos da base, inclusive o PDT, deram de ombros para a orientação do governo e votaram em peso, na Câmara, pela derrubada dos decretos de Lula.
Na história da redemocratização, apenas 1% das decisões do Executivo foi barrada assim pelo Parlamento.
Sinal de que a situação entre governo e Congresso já degringolou faz tempo.
Tanto que, no Planalto, não teve quem não veja em 2025 as dinamites que implodiram Dilma Rousseff(PT) em 2016.
Mesmo assim, o ataque pegou meio mundo de surpresa.
Até o Irã, ao alvejar uma base militar dos Estados Unidos no Qatar, avisou com antecedência qual seria o alvo para que a área fosse evacuada.
Motta nem esse alerta deu.
Foi como um tiro pelas costas, com o objetivo de neutralizar o governo – que contava com os recursos provenientes do IOF para fazer a máquina funcionar sem precisar cortar do orçamento de áreas vitais, como Educação.
Motta é uma das muitas crias alimentadas por Eduardo Cunha(Republicanos) com leite e emendas desde o tempo em que o então deputado do MDB fluminense mandava e desmandava na Câmara.
Na quarta-feira (25) ele fez o padrinho sorrir de orgulho. E relembrou as turbulências em Brasília datadas de dez anos atrás, quando Cunha começou a espezinhar Dilma para expandir a sua área de influência no governo e estatais.
Todo mundo sabe como essa história terminou, um ano depois.
Com a base em frangalhos, Lula vê o cerco do Centrão se fechar sem margem para reação – vai telefonar para o ex-ministro Flávio Dino e pedir para que ele descumpra no STF o papel para o qual foi indicado? Ninguém sabe.
Sob a liderança de Motta e Alcolumbre, o Congresso seguirá asfixiando o governo já com vistas para 2026.
Eles só não tiram Lula do páreo agora porque falta pouco tempo até a eleição e o poder de barganha só tende a aumentar até lá.
Ciro Nogueira, senador do PP do Piauí e bolsonarista convertido, diz que um impeachment hoje, diferentemente do contexto de dez anos atrás, é complexo porque Lula, mesmo longe do pico de popularidade, ainda tem cerca de 30% de aprovação, com oscilações para mais ou para menos. Dilma tinha 7% quando caiu.
O objetivo de Motta e companhia parece claro: deixar o governo sangrar para Lula chegar fragilizado a 2026. E entregar anéis e dedos toda vez que for ao paredão.
Ganhe quem ganhar em 2026, ninguém vai para lugar algum sem pagar pedágio aos bebês reborn gestados por Eduardo Cunha ao longo de seu reinado no Congresso. Entre eles a própria filha do ex-cacique, Dani Cunha, autora da proposta que ampliou o número de deputados na Câmara.
Redação com IG
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