Anadia/AL

15 de maio de 2025

Anadia/AL, 15 de maio de 2025

A célula secreta: como um núcleo da Polícia Federal se alistou para o golpe

Documentos revelam núcleo de policiais federais prontos para impedir a posse de Lula e manter Bolsonaro no poder.

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 15 de maio de 2025

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Foto: Reprodução - Wladimir Matos Soares

Por Cleber Lourenço

Na antevéspera da posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em dezembro de 2022, um grupo de policiais federais trocava mensagens em aplicativos criptografados. Entre emojis de bandeiras e frases cifradas como “QAP” — jargão da segurança que indica prontidão —, eles discutiam a possibilidade de ocupar o Palácio do Planalto para proteger o então presidente Jair Bolsonaro. A ordem não veio. Mas os planos estavam prontos.

As informações fazem parte dos documentos anexados à Petição 13236, analisados pela Polícia Federal e enviados ao STF. No centro da trama está Wladimir Matos Soares, agente da PF que confessou ter integrado uma “equipe de operações especiais” formada para atuar armada contra a posse do presidente eleito. “Estávamos prontos para empurrar meio mundo de gente. Matar meio mundo de gente. Só esperávamos a canetada do presidente”, disse Wladimir em áudio captado no inquérito.

Em 29 de dezembro de 2022, mensagens enviadas por Wladimir a diversos contatos traziam uma frase repetida: “Não vai ter jogo”. A expressão, segundo a Polícia Federal, era um código sobre a iminência de uma ação para impedir a posse de Lula. O envio das mensagens ocorreu entre 13h48 e 14h09 daquele dia, e foi sucedido, horas depois, por novos diálogos que demonstravam frustração com o recuo das lideranças militares.

O grupo não agia sozinho. Segundo o relatório da PF, Wladimir recebeu convites de outros dois policiais: os agentes Ramalho e Marcelo, também da ativa, para integrar uma equipe de contenção. Essa força deveria atuar no Palácio do Planalto se Bolsonaro recusasse passar a faixa. Em seu depoimento, Wladimir narra ter surpreendido os dois conversando sobre o plano, que cessaram a conversa quando ele entrou na sala. “Wladimir é de confiança”, disse Ramalho antes de integrá-lo ao grupo.

Polícia,

Conexões com a Abin

As conexões se estendem à Abin. Ramalho e outro agente, Felipe Arlotta Freitas, haviam sido cedidos à agência sob a direção de Alexandre Ramagem. Em conversas de WhatsApp, Arlotta compartilha uma postagem de Ramagem e ouve de Wladimir: “Precisamos agir”. Em outra ocasião, segundo Wladimir, Ramalho comentou que “a cúpula estava reunida decidindo o que fazer”.

O material revela uma articulação verticalizada, que vai de agentes da base a figuras da cúpla da segurança pública. A organização não se limitava a discursos: havia planos operacionais e distribuição de funções. Havia também intenção de prender Alexandre de Moraes e de substituir o comando da PF.

A existência desse núcleo golpista dentro da Polícia Federal expõe os riscos que a democracia brasileira correu. Revela também que a tentativa de golpe não se limitou aos acampamentos em frente aos quartéis ou aos vídeos nas redes sociais: ela se infiltrou no coração do Estado.

“Faltou pulso do presidente”, disse Wladimir em outro trecho. “A tropa toda queria. Só os generais não deixaram.”

O golpe não aconteceu. Mas os seus soldados estavam prontos.

Redação com ICL Notícias

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