Lampião vive em um terrário na casa de Samuel e sua esposa. Segundo o professor, os cuidados são mínimos, comparados com um animal de estimação, como gato e cachorro. “Quando ele [Lampião] completou um ano comigo, eu o levei ao veterinário. É um tipo de animal que o veterinário não gosta. Não gosta porque não gera muito atendimento, pois raramente adoece, não tem vacina e não transmite doenças. Meu único gasto é com alimentação e ornamentação em seu terrário”, diz.
Já Rodrigo, desde 2021, cria três répteis. “Sempre gostei de animais, como cães e peixes. Em 2021, após conversas com um amigo biólogo que cria répteis, passei a estudá-los. Adquiri meu primeiro, um gecko-leopardo, em 2022. E em 2023, adquiri duas serpentes”, diz ele.
O lagarto é de origem paquistanesa e é da espécie leopard gecko (lagartixa leopardo), e tem esse nome pelas manchas no corpo. É uma fêmea com 1 ano e 9 meses. Quanto às serpentes, uma delas é uma sand boa (jiboia da areia), de origem africana, fêmea, com 1 ano e 5 meses. Ela tem esse nome porque tem o hábito de se enterrar na areia. A outra serpente, um macho da espécie ball python (piton bola), tem 1 ano e 3 meses e tem esse nome porque se enrola formando uma bola como mecanismo de defesa.
“Todos eles são legalizados. Foram adquiridos em criadouros com autorização de manejo, reprodução e venda. Os meus são considerados exóticos, já que não são da fauna brasileira”, fala.Assim como a jiboia de Samuel, os animais de Rodrigo não têm muita manutenção e custo. “São [custos] bem mais simples que qualquer outro animal que já tive. Nos terrários, mantenho controle de temperatura e umidade com equipamentos apropriados. A alimentação das serpentes ocorre uma vez a cada 10 dias, com camundongos previamente abatidos, adquiridos em biotérios. E o lagarto é alimentado a cada 3 dias, com duas espécies de baratas que eu mesmo crio”, explica.
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), apenas criadouros registrados podem comercializar algumas espécies de animais silvestres, com emissão de nota fiscal e atestado de procedência emitido pelo Ibama. Além disso, dependendo do animal, será necessário o uso de anilha ou microchip, o que possibilita a identificação da espécie.
A Vetz é uma clínica veterinária totalmente especializada em animais silvestres e exóticos, inaugurada em 2022, na Gruta de Lourdes. “Ela conta com serviços de atendimento especializado na clínica e à domicílio, realização de exames, cirurgias, internamento, consultorias e assistências para criatórios”, explica Amanda de Carvalho Moreira, médica veterinária que atua na área de clínica de animais silvestres e exóticos.
A clínica conta com dois médicos veterinários especializados em clínica e cirurgia de animais silvestres e exóticos, uma equipe de estagiários e uma recepcionista. A maior procura na clínica consiste nas espécies mais comumente criadas como pets, como calopsitas, periquitos, papagaios, coelhos, porquinhos-da-índia e jabutis.“Por serem pets não convencionais, temos uma grande procura por consultas de check-up e orientação, tendo em vista que boa parte dos problemas de saúde desses animais está relacionada a erros de manejo”, fala Amanda.O mercado de pets não convencionais vem crescendo, e atualmente a Vetz tem, em média, 40 a 50 atendimentos por mês. Além de bichos criados como animais de estimação, a clínica também realiza atendimento a animais silvestres resgatados e presta assistência a criatórios comerciais, porém trabalha de forma autônoma, sem parceria com órgãos ambientais.
“A rotina clínica de animais silvestres e exóticos é bem diversificada e acabamos tendo contato com espécies variadas e inusitadas. Os atendimentos de peixes e invertebrados são os que mais costumam chamar a atenção. Já tivemos algumas espécies de peixes em tratamento e internamento conosco, e recentemente tivemos a visita de uma aranha caranguejeira que veio para atendimento clínico e tratamento de uma lesão. Todos criados como bichos de estimação”
A médica veterinária também explicou a diferença entre animais exóticos e silvestres: “Espécies silvestres são nativas, ou seja, aquelas que pertencem à nossa fauna, podendo ser encontradas em vida livre em nosso território. Já as exóticas são as espécies originadas em outros países, não ocorrendo naturalmente no nosso território.”
No entanto, a competência para autorizar a criação de fauna silvestre passou a ser Órgão Estadual do Meio Ambiente (IMA) e não mais do Ibama (órgão ambiental federal). “Isto ocorre porque, em 2011, foi publicada a Lei Complementar nº 140/2011, a qual definiu as competências da União, dos Estados e dos Municípios. No inciso XIX do Art. 8º desta Lei está definido que a competência para autorizar criadouro (e demais categorias de empreendimentos de fauna silvestre) é do Estado”, informa nota do Ibama enviada à Gazeta.