Em ato histórico, o fundador do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), Eduardo Moreira, entregou, na manhã desta quarta-feira (20), o manifesto “Somos 99%”, que já reúne mais de 427 mil assinaturas, a parlamentares no Congresso Nacional, em Brasília. No dia anterior, Moreira entregou o texto com as adesões ao presidente Lula.
A campanha denuncia os privilégios do 1% mais rico da população, responsável por concentrar 63% da riqueza nacional, além de criticar os abusos de políticos fisiológicos e servidores com supersalários.
“É o maior manifesto das últimas décadas do Brasil, em termos de número de assinaturas confirmadas com CPF”, disse Eduardo Moreira a Lula. “São 430 mil assinaturas, quase meio milhão de pessoas, que pedem transparência, fim de super-salários, fim da impunidade, e querem que problemas que a gente enfrenta há décadas sejam finalmente encarados de frente, porque o Brasil merece ter um país com justiça social, justiça tributária, com transparência e dignidade”.
O presidente recebeu o abaixo-assinado em seguida.
“O que eu espero é que um documento como esse, representado num abaixo-assinado com quase meio milhão de pessoas, mexa um pouco com a cabeça do povo brasileiro.Para o povo saber que a luta contra a desigualdade tem que envolver a sociedade como um todo”, disse o presidente Lula a Eduardo Moreira, na terça-feira (19). “Acho que 99,1% das pessoas não concordam com as mazelas que acontecem nesse país e no mundo. Quero te dar os parabéns pela ideia do manifesto e do abaixo-assinado e eu espero que aquele a quem você entregar leia ao menos o manifesto e leve em conta que é preciso mudar o mundo”.
Lula contou que quando saiu da cadeia foi ao Papa Francisco, no Conselho Mundial da Igreja, para fazer um movimento mundial contra todas as desigualdades, seja de gênero, raça, educação, salarial, etc. “Lamentavelmente, quando eu saí de Roma, veio a Covid-19 e eu fiquei dois anos dentro de casa e não pude fazer. Mas acho uma ideia fascinante essa do manifesto”, comentou o presidente.
Lula disse ainda que as pessoas no Brasil se queixam muito quando ele fala em ‘nós’ e ‘eles’. “Na verdade são ‘eles’ contra ‘nós’, porque o trabalhador não tem preconceito, o trabalhador trabalha, ganha pouco e reclama muito pouco. Eu digo para os empresários: em vez de vocês pagarem o salário olhando o cara como trabalhador, olha ele como seu consumidor, porque é ele que vai comprar o produto que você fabrica”.
O abaixo-assinado está disponível no site 99porcento.com.br e apresenta uma série de propostas para combater a desigualdade e práticas ilegítimas dentro do poder público. A mobilização também incentiva a divulgação nas redes sociais com a hashtag #Somos99, oferecendo, no site oficial, vídeos e materiais para compartilhamento.
Nesta quarta-feira (20), Edu Moreira concedeu uma entrevista coletiva no Congresso, ao lado de diversos parlamentares que se posicionaram a favor das propostas do manifesto, como a deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ), Chico Alencar (PSOL-RJ), Lindbergh Farias (PT-RJ), Erika Hilton (PSOL-SP), Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), Samia Bomfim (PSOL-SP), Fernanda Melchionna (PSOL-RS), dentre outros. Em ato simbólico durante a coletiva, os deputados “abraçaram” as assinaturas do manifesto.

“É muito importante a gente entregar para que cada uma das pessoas que assinou esse manifesto saiba que o nome dela fisicamente está sendo entregue para os representantes do povo nessa Casa. A gente deposita aqui muita esperança e a possibilidade de construir um país diferente daqui para frente”, ressaltou Edu Moreira.
As propostas do documento foram bem recebidas e apoiadas pelos parlamentares presentes, como o Pastor Henrique Vieira. “É um manifesto muito bem feito, com propostas objetivas, que visam combater a desigualdade, com amplo apoio da sociedade. É com muita alegria que a gente recebe essa iniciativa da sociedade civil, que a gente se compromete com essa agenda dentro do parlamento e, neste semestre, se tudo der certo, vamos garantir a taxação dos super-ricos e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil”, disse.
A deputada Jandira Feghali destacou a proposta pelo fim dos supersalários no setor público e abordou a importância da mobilização popular. “É pauta nossa de muito tempo a questão dos supersalários. Isso já foi pautado foi descacterizado no plenário para não atingir os supersalários que se concentram hoje no Poder Judiciário, todo mundo sabe disso”
Jandira criticou o lobby permanente dentro do Congresso Nacional tem trazido muita dificuldade. “Todo mundo sabe qual é o parlamento que nós temos e da correlação de força que temos, da vulnerabilidade a determinados lobbies. Por isso, esse tipo de instrumento de mobilização da sociedade ajuda muito porque aqui, nós somos minoria numérica, mas somos maioria na sociedade quando a gente faz defesa do que é justo”, completou.
O líder do governo na Câmara, Lindbergh Farias, destacou que tem acompanhado o ICL desde o começo. “Essa campanha tem tudo a ver com esta semana que estamos vivendo. A gente quer votar a isenção do Imposto de Renda nesta semana, avançar em uma Medida Provisória que taxa bancos, bets, fintechs. Para nós é fundamental pautar o debate dos supersalários, não dá para aceitar desembargador ganhar R$ 400 mil salário. A gente acha que tem que tratar da pauta do povo e não aceitamos, também pauta qualquer coisa sobre o fim do foro para criar uma blindagem para os deputados”, ressaltou o deputado Lindbergh.
A deputada Fernanda Melchionna destacou o manifesto “Somos 99%” como um dos maiores da história recente do Brasil. “A gente sabe que para mudar a Câmara dos Deputados precisa pressão, mobilizaçaõ e luta. O ICL nos traz um dos maiores manifestos da história recente do nosso país e isso nos dá força para fazer a luta política aqui dentro, e seguir a luta política lá fora para de fato conseguir pautar projetos importantes para o povo”.
Durante a coletiva, a deputada Erika Hilton parabenizou Eduardo Moreira e o ICL pela iniciativa. “Essa mobilização profundamente importante faz coro à necessidade do parlamento voltar os olhos para os 99% da sociedade, e não apenas para o 1% que mandam e desmandam. O parlamento que deveria ser a casa do povo e se reger pelas necessidades populares, muitas vezes vira as costas para essa população, com um lobby pesado que continua a pautar o que não é o interesse da população brasileira. É preciso levar alívio aos mais pobres, à classe trabalhadora e fazer justiça tributária neste país. Esse manifesto simboliza exatamente a necessidade de levarmos esse debate adiante”.

Propostas do manifesto ‘Somos 99%’
Dentre as principais propostas do manifesto, estão: Fim dos supersalários no setor público; extinção das emendas secretas; redução da carga tributária sobre os trabalhadores; tributação mais justa sobre os mais ricos; combate à impunidade entre políticos, juízes, empresários, banqueiros e militares; divulgação ampla do Portal da Transparência; Cobrança de dívidas bilionárias de grandes latifundiários e empresas; proibição de eventos públicos considerados “vergonhosos” e sem transparência.
O movimento, no site, exibe o posicionamento de deputados e senadores do Congresso Nacional sobre as pautas que constam no texto. É possível acompanhar uma lista de todos os congressistas do país, que estão sendo interrogados pelo ICL sobre as propostas do manifesto. Os deputados que se manifestarem a favor de todas as propostas receberão um selo do “Somos 99%” e os parlamentares que foram contrários também serão exibidos no site. Os congressistas que se manifestaram a favor das ideias e voltarem contra as medidas no Parlamento vão receber um selo de “traidor dos 99%”.
Alguns dos parlamentares estão sendo interrogados pessoalmente, nas dependências do Congresso Nacional, pelo jornalista Guga Noblat, do ICL Notícias. Os vídeos com os questionamentos feitos por Guga também podem ser vistos no site da campanha.
Leia o manifesto
“Por um Estado Ético, Justo e Transparente
O Brasil precisa de coragem para romper com os privilégios, enfrentar os abusos e devolver o Estado ao povo.
Não aceitaremos mais um país em que poucos concentram riquezas e benefícios, enquanto a maioria paga a conta.
Chegou a hora de moralizar o Judiciário, o Legislativo e o Executivo. De construir um Estado ético, justo e transparente.
Por isso, propomos as seguintes medidas imediatas e inegociáveis:
Fim dos Supersalários
Exigimos o cumprimento integral do teto constitucional para todos os servidores públicos, sem exceções ou manobras. Chega de “penduricalhos” que transformam cargos públicos em castas de privilégios.
Justiça Fiscal para Quem Mais Precisa
Isenção de imposto de renda para quem ganha até 5 mil reais.
E que o 1% mais rico finalmente pague sua parte justa, com taxação de dividendos milionários e combate às estratégias que driblam impostos.
Combate à Corrupção e à Impunidade
Deputados e senadores que roubam, descumprem a lei ou traem a confiança pública devem ser julgados e punidos como qualquer cidadão.
A revisão do foro privilegiado para proteger criminosos é urgente.
Transparência Radical
Fim imediato das emendas secretas, com auditoria completa de tudo o que foi gasto nos últimos anos.
O povo tem direito de saber para onde vai cada centavo do seu dinheiro.
Cobrança dos Grandes Devedores
Os grandes donos de terras, bancos e empresas que acumulam dívidas bilionárias com a União devem pagar já o que devem à sociedade.
Não aceitaremos mais calotes travestidos de “acordos” ou ações judiciais intermináveis.
Chega de Subsídios aos Já Ricos
Os subsídios fiscais bilionários para grandes empresas precisam acabar. É hora de investir esses recursos na população, não em privilégios.
Independência e Imparcialidade no Judiciário
Definição clara de regras para que magistrados não participem de eventos financiados por entidades privadas que possam comprometer sua imparcialidade. Justiça não se vende, não se aluga, não se corrompe.
Fiscalização Popular
Uma campanha nacional de divulgação do Portal da Transparência, para que qualquer cidadão possa fiscalizar os gastos, salários e benefícios de deputados, senadores e membros do Executivo.
O povo fiscaliza. O povo cobra. O povo decide.
O Brasil que Queremos
Queremos um Brasil onde os impostos sejam justos, onde os poderosos também paguem a conta, onde ninguém esteja acima da lei, e onde cada centavo público sirva para melhorar a vida da maioria.
Este manifesto é um chamado: para quem não aceita mais a desigualdade, para quem não aguenta mais privilégios e corrupção, para quem acredita que o Estado deve servir ao povo — e não o contrário”.
Redação com ICL Notícias
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