Por Henrique Rodrigues
Luckas Viana dos Santos tem 31 anos e há um ano levava a vida entre as Filipinas e a Tailândia, onde conseguiu empregos e alimentava “sonhos de artistas”, segundo sua mãe, Cleide Viana. Ele trocava de trabalho e seguia na busca sempre por uma vaga melhor, até que um dia, em outubro, já instalado em Bangcoc, capital tailandesa, recebeu um contato de uma suposta equipe de RH que fazia recrutamentos.
A proposta não era maravilhosa, mas era melhor do que seu então emprego atual. Ele receberia US$ 1.500 (aproximadamente R$ 8 mil naquele período) e a atividade seria exercida numa outra cidade do país do Sudeste Asiático, Mae Sot. Luckas topou a proposta e então marcou um local para que o automóvel da “empresa”, em 7 de outubro, fosse buscá-lo para levá-lo à sua nova moradia, de onde trabalharia. Se corresse tudo dentro da normalidade, a viagem duraria aproximadamente quatro horas. A história é relatada pelo portal Uol.
Depois de muito tempo além do programado e de ter trocado de carro algumas vezes, o brasileiro passou a achar que algo não estava correto na viagem e começou a trocar mensagens com um amigo compatriota que vive nas Filipinas. Ao descobrir que teria que deixar mais uma vez o veículo e que precisaria entrar num barco, ele mandou um primeiro alerta desesperado ao colega.
“No meio do nada, entramos numa selva, pegamos um barco e tenho que esperar mais um carro… Parece tráfico”, escreveu.
A certa altura e totalmente tomado pelo medo, Luckas disse para o amigo que suspeitava já não estar mais no território tailandês e que “teria cruzado a fronteira de uma forma diferente”. As poucas coisas que via escrito em algumas placas não estavam mais no idioma da Tailândia, mas sim em birmanês, a língua de Myanmar, a antiga Birmânia, um outro país. De fato, Mae Sot é uma cidade tailandesa já nas proximidades com a fronteira com Myanmar.
Após quase uma hora sem mandar mensagens, finalmente Luckas falou com o amigo e foi direto: “Chame a polícia”. Antes que qualquer providência fosse tomada, ele voltou atrás minutos depois e pediu para que o interlocutor não acionasse as autoridades pois estava num local com várias pessoas armadas e temia por sua vida se denunciasse o grupo.
Já na casa onde ficaria, Luckas mandou outra mensagem avisando que ficaria sem o celular, pois os homens tomariam o aparelho dele em minutos. Ao responder horas depois que estava bem, o amigo estranhou e pediu para que ele contasse o que estava acontecendo, mas o brasileiro disse que “não dava”. Na localização compartilhada com o colega a posição do rapaz marcava a cidade de Kyaukhat, em Myanmar.
Com a mãe, Luckas já praticamente não falava. Depois de algum tempo respondeu uma tentativa de contato dela, mas teria respondido de forma seca e fria que “estava bem” e que “precisava dormir para trabalhar no outro dia”. Depois de muita insistência da mãe, que não parava de perguntar se estava tudo bem, ele respondeu apenas “não” e deixou a mulher desesperada.
“Ele disse que não podia falar, enquanto eu escutava uma língua diferente no fundo. Pediam para ele falar em inglês comigo, mas eu não falo inglês. Só deu tempo de o Luckas pedir para eu avisar todo mundo que ele estava em risco e dizer que tentaria me ligar de novo nos próximos dias”, disse Cleide à reportagem do Uol.
De tempos em tempos, o amigo de Luckas que vive nas Filipinas passou a receber mensagens dele, sempre de forma rápida e em linguagem cifrada, usando abreviaturas e consoantes, para evitar que os criminosos traduzissem o que era conversado. Os contatos eram feitos por números desconhecidos e também pelo aplicativo Telegram.
Segundo Luckas, o “trabalho” desempenhado por ele era o de aplicar golpes em cidadãos de vários países, pelo telefone, e ele ficava nessa atividade até 15 horas por dia, recebendo ameaças e agressões. Ele estava privado de água e vivendo numa espécie de alojamento em condições desumanas.
O rapaz também contou que em alguns momentos estava sangrando e com hematomas por todo o corpo devido aos espancamentos que recebia dos algozes por não estar desenvolvendo o trabalho da maneira que eles esperavam. No desespero, disse que apenas queria fugir ou até mesmo morrer, porque não aguentava mais.
“Compartilhe fotos minhas em todas as redes sociais, minha vida corre perigo. Fale a todos o que aconteceu, todos precisam saber… Só quero ir embora. Me ajude, tenho muito medo de morrer… Faz dois dias que não tomo banho. Nós trabalhamos mais de 15 horas por dia. Isso não é vida, não sei o que fazer. Eu quero ir embora ou morrer”, escreveu desesperado, de forma cifrada ao amigo. Há pouco mais de um mês ele não dá qualquer notícia ao amigo ou à mãe.
O caso de Luckas já chegou ao conhecimento do Itamaraty, que divulgou um informa alertando para esse tipo de golpe na região do Sudeste Asiático em que brasileiros e cidadãos de outros países são escravizados para serem usados em quadrilhas que aplicam golpes por telefone, algo que já teria sido denunciado massivamente desse 2022.
A chancelaria brasileira disse ao Uol que “por meio das Embaixadas do Brasil em Bangkok e em Yangon, acompanha o caso, está em contato com as autoridades locais competentes e presta assistência consular aos familiares do brasileiro”.
Redação com Revista Fórum
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