Anadia/AL

4 de novembro de 2025

Anadia/AL, 4 de novembro de 2025

Mulher fica na UTI por 24h após usar caneta emagrecedora por conta própria

''Eu quis testar esses remédios. Um amigo me indicou um e decidi usá-lo [sem prescrição médica e sem indicação —Mayara não era obesa].''

ABN - Alagoas Brasil Noticias

Em 4 de novembro de 2025

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Foto: Arquivo Pessoal

A criadora de conteúdo Mayara Cardoso, 31, fazia exercícios regulares, mas queria perder mais alguns quilos e apelou para canetas emagrecedoras. A indicação veio de um amigo e, duas horas após a aplicação, ela começou a ter diarreia e vômito —que são possíveis efeitos colaterais desse tipo de medicamento.

O quadro se agravou rapidamente e, em pouco tempo, ela estava tão desidratada que não conseguia mais reagir. Após 24 horas na UTI, Mayara admite que tomou um grande susto apenas por vaidade —e que não vale a pena. A VivaBem, ela conta sua história:

‘Normalizei procedimentos para perder peso’

“Em 2020, a vida de todo mundo passou por uma revolução devido à pandemia. O isolamento me fez entrar em uma depressão severa e, mesmo com o afrouxamento das medidas de distanciamento, demorei para melhorar. Uma das ferramentas que me ajudou muito nessa época foram os exercícios.

A rotina de atividades melhorou minha mente e meu corpo. Mudei minha alimentação, diminuí o consumo de álcool e, como uma coisa leva a outra, meu corpo foi ficando mais forte e definido.

Como consequência, passei a me sentir mais segura com minha imagem, algo muito importante para quem trabalha com internet. Meu conteúdo é focado em maquiagem e beleza. Se estou mais magra, ganho mais engajamento (comentários, curtidas e compartilhamentos). Sim, meu corpo influencia diretamente no resultado.

Toda essa mudança de vida me fez sair da depressão, mas também me colocou em uma bolha de emagrecimento. Comecei a normalizar procedimentos para perder peso, o que incluía o uso dessas canetas. Afinal, estava todo mundo usando e emagrecendo, mesmo sem fazer exercício. Eu ouvia vários relatos positivos.

‘Tive 30 episódios de diarreia e vômito’

Eu quis testar esses remédios. Um amigo me indicou um e decidi usá-lo [sem prescrição médica e sem indicação —Mayara não era obesa]. Apliquei a dose mínima, porque já tinha ouvido que algumas pessoas erravam a quantidade. Então, tomei esse cuidado.Após duas horas da minha primeira aplicação, comecei a me sentir mal. No início, era um enjoo. Pouco tempo depois, evoluiu também para uma diarreia. Em duas horas, tive 30 episódios de diarreia e vômito. Usei o remédio por volta das 16h, comecei a passar mal às 18h e fui para o hospital às 20h.

Passadas algumas horas, sob efeito dos remédios, comecei a reagir. A médica veio conversar comigo sobre o que eu tinha usado.

Eu não sabia o nome do remédio — e não me lembro até hoje. Apliquei um que meu amigo me deu na hora. Ela também queria entender a quantidade que usei. Mesmo com a melhora, a médica solicitou uma ambulância para minha transferência, já que eu precisava estar no CTI. E o hospital em que estava não tinha a estrutura adequada.

Fiquei sendo monitorada por 24 horas. Meu corpo foi respondendo, fui para o quarto e tive alta. A médica me explicou que eu poderia ter tido uma falência dos rins se não tivesse agido rápido.

O que eu achava que era algo simples, que todo mundo usava, teve consequências pesadas. Eu não imaginava. Fiquei bem desesperada com a situação. Perdi os sentidos, não conseguia nem explicar o que tinha feito aos médicos.

‘Não são tão simples assim’

Faço questão de contar o que aconteceu comigo porque duvido que fui a primeira ou que serei a última. A desinformação tem muita voz hoje em dia, então quis emprestar a minha para fazer um alerta e dizer que esses remédios não são simples assim. Continuo debilitada.

Decidi usar o remédio em busca de perfeição, algo que não existe. Eu não precisava emagrecer. Devido à banalização, tomei um grande susto e não quero que as pessoas passem pelo mesmo.”

Uso indevido traz consequências

Todo tipo de medicamento precisa de indicação médica antes de ser utilizado. “A automedicação é um problema não apenas com remédios para obesidade, mas de maneira geral. Toda medicação tem contraindicação, pode trazer benefícios e efeitos colaterais. Por isso, os casos têm de ser avaliados individualmente”, diz o endocrinologista André Camara de Oliveira, diretor da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) de São Paulo.

A reação adversa que Mayara enfrentou não é incomum. Segundo o endocrinologista Mario Saad, professor de clínica médica da Faculdade de Medicina da Unicamp e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Obesidade e Diabete, quase 50% das pessoas que usam caneta emagrecedora podem ter diarreia e vômito.

O paciente pode apresentar o contrário também e ficar constipado. Isso atrapalha a vida de quem não tem nenhuma comorbidade. Mas, se se tiver comorbidade, apresentar um quadro de desidratação tão rápido é ainda mais preocupante.
Mario Saad, endocrinologista

As canetas são para pacientes que têm quadro de obesidade, que precisam perder peso e prevenir complicações causadas pela doença. “Não é uma indicação estética, é uma prescrição médica. Uma pessoa com obesidade precisa emagrecer para diminuir os riscos de doenças cardiovasculares, renais crônicas, hepáticas e até alguns tipos de câncer”, explica Saad.

Oliveira alerta ainda sobre a origem dos medicamentos. “Por serem controlados, muitas pessoas compram as canetas de outra forma, o que não é seguro. Elas podem estar adquirindo um medicamento falsificado. A composição irregular e com procedência duvidosa pode causar risco hepático, renal e efeitos colaterais não esperados”, diz.

As canetas não são vilãs —o perigo está no uso indevido. “Pelo contrário, são um grande avanço da medicina e nós, médicos, ficamos felizes com seu surgimento. Antes, tínhamos pouquíssimas armas terapêuticas para tratar pacientes com obesidade. Hoje, lamento apenas não ser mais universal, já que o preço é tão elevado”, diz Saad.

Redação com TNH1

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